Eu tenho medo

Tenho medo da minha mente e das lembranças borradas que pairam sobre ela

Tenho medo do rosto próximo demais ao meu, do cheiro de álcool, e de repente.... nada, nada

Tenho medo dos passos pesados no chão, das mãos sem rumo na superfície da minha epiderme...

É uma peça, minha mente gosta de pregar peças e eu tenho medo

Tenho tanto medo que não sei dizer o que é real

A coceira no dedo cortado

O hálito azedo

Os olhos lacrimejados

A roupa usada

O tic-tac do relógio marcando o pulso

O arrependimento

Eu sou feito dessas lembranças

O grito ecoa minha garganta

E os olhos alheios ardem, mas não param

Não sou eu

Nunca foi

Mas tenho medo

Tenho medo que descubram o motivo de não ser eu

Droga, como tenho medo

E depois das lembranças borradas o nada, apenas a escuridão

A escuridão sem som, sem cor, sem cheiro, apenas eu e o fim.

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